segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Resenha de artigo: “O Processo de Produção Musical na Indústria Fonográfica” (MACEDO, 2006)

Algo que parece fundamental em determinado momento do trajeto de quem pretende se aventurar no mundo da produção de música em home studio, é entender melhor o que é produção musical em seu contexto histórico e as funções do produtor musical, ontem e hoje. Isso vale pra quem pretende somente se autoproduzir e produzir sua própria banda ou produzir outros artistas. Da importância (e da utilidade) de aprender os conceitos básicos sobre produção musical e suas etapas no âmbito da produção caseira, em home studio, tratarei em diversos momento e em postagens específicas. Na sequência, apresento o resumo de um artigo interessante sobre o assunto, e, obviamente, aconselho a leitura na íntegra.

Download: http://www.rem.ufpr.br/_REM/REMv11/12/12-macedo-gravacao.html

MACEDO, Frederico Alberto Barbosa. O Processo de Produção Musical na Indústria Fonográfica: questões técnicas e musicais envolvidas no processo de produção musical em estúdio. In: Simpósio de Pesquisa em Música 2006, 2006. Anais do Simpósio de Pesquisa em Música 2006 - SIMPEMUS 3. Curitiba - PR: Editora do Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná, 2006. v. 01.

No artigo “O Processo de Produção Musical na Indústria Fonográfica: questões técnicas e musicais envolvidas no processo de produção musical em estúdio”, o autor Frederico Alberto Barbosa Macedo nos mostra que o trabalho em estúdio, que inicialmente se resumia em gravar a performance dos músicos, tal como ocorria (ao vivo), após o surgimento de tecnologias de manipulação dos materiais gravados, passou a se complexificar. Com os avanços tecnológicos e das técnicas (fita magnética, surgimento do overdub, gravadores multipistas), aumentou a especialização e a divisão do trabalho na produção musical. Diversos profissionais passaram a fazer parte do processo, cada um com uma função específica e responsável por uma fase da produção. Em relação aos principais processos envolvidos na produção musical na atualidade, temos: pré-produção, gravação, edição, mixagem e masterização. Processos os quais contam com a participação de diversos profissionais, dentre eles: produtores, cantores, instrumentistas, arranjadores, técnicos e engenheiros de som. (p.01)


Vejamos algumas funções e características do produtor musical (p.02):
  • concepção musical do projeto e coordena a sua realização
  • coordena o pessoal envolvido na produção (técnico ou engenheiro de som, arranjadores)
  • precisa conhecer o mercado e o público e os detalhes técnicos que viabilizarão o sucesso do projeto musical
  • intermediação entre o artista e a gravadora ou entre o artista e o mercado
  • habilidade para se relacionar com o pessoal envolvido
  • produtor e técnico de som podem ser as mesmas pessoas (gravadoras independentes e pequenos estúdios)



Na sequência, vejamos as fases da produção musical e suas características:

Pré-produção (p.02)

  • primeira fase da produção, onde se tem a prévia do projeto musical
  • planejamento
  • cronograma (prazos de realização, lançamento, distribuição, divulgação e vendas)
  • escolha dos locais de ensaios
  • audição de materiais prévios e escolha do repertório
  • criação dos arranjos
  • escolha dos estúdios e profissionais envolvidos e das tecnicas e tecnologias a serem empregadas
  • estimativa dos custos
  • elaboração de estratégia de marketing para o projeto

Gravação (p.02-03)

  • fase onde a execução musical é gravada na máquina de gravação
  • necessidade de captar o som com boa qualidade técnica e musical
  • necessidade de boa execução por parte dos músicos, assim como bons equipamentos e um bom técnico
  • a fase pode ser realizada ao vivo (músicos tocando juntos ao mesmo tempo), em overdub (músicos e instrumentos gravados separadamente, em momentos e ambientes diferentes) e através de computadores ou sequenciadores (instrumentos e programações MIDI)

Edição (p.03)

  • fase de seleção e sequenciamento dos melhores trechos gravados
  • eliminação de ruídos e vazamentos
  • eliminação de trechos de silêncio
  • possibilidade correções de ritmos fora do tempo e afinação de vozes desafinadas
  • o resultado final são as trilhas de cada instrumento prontas para serem mixadas

Mixagem (p.04)

  • busca do equilíbrio entre as trilhas gravadas
  • busca de timbres certos de cada instrumento ou voz
  • equilíbrio dos volumes de cada trilha (instrumentos e vozes)
  • posicionamento de cada instrumento e voz no campo estéreo
  • aplicação de efeitos
  • necessidade de bom conhecimento técnico, treinamento auditivo, sensibilidade artística e de conhecimento musical
  • no processo pode-se, intencionalmente, buscar fidelidade à execução musical gravada ou a alteração da mesma para alcançar determinada proposta estética
  • busca-se coerência com a proposta estética do artista
  • o produto desta etapa é são as diversas trilhas (instrumentos e vozes) reduzidas a dois canais (estéreo)

Masterização (p.04)

  • fase também chamada de pós-produção
  • definição da ordem das músicas
  • aplicação de fade-in e fade-out e definição de intervalos entre as faixas
  • busca de homogeneidade e coerência entre as músicas (timbre, volume e sonoridade)
  • deve-se pensar os tipos de mídias nos quais o produto final será comercializado e nos aparelhos nos quais será executado
  • gera a matriz que será enviada para a fábrica para replicação


Na conclusão do artigo (p.06), o autor, a partir do que foi exposto no texto, nos traz pontos importantes para serem pensados acerca das mudanças no mundo da produção musical em estúdio:
  • histórica fragmentação em várias fases e o consequente surgimento de diversos personagens associados ao processo
  • pessoal envolvido no fazer musical antes das tecnologias: compositor, intérprete e ouvinte
  • pessoal envolvido no fazer musical depois das tecnologias: músicos, produtores, intérpretes, arranjadores, engenheiros de som, programadores, diretores artísticos, divulgadores e executivos de gravadoras
  • deslocamento das noções tradicionais de autoria (dependendo da influência, muitas vezes os profissionais envolvidos reivindicam o reconhecimento de sua participação como uma sendo de natureza autoral)

E para concluir mesmo:

O processo de produção musical em estúdio se desenvolveu, por um lado, intimamente associado ao desenvolvimento das tecnologias de produção musical e, por outro lado, ao próprio desenvolvimento geral da música, de seus estilos, de suas concepções e de seus ideais estéticos. Se inicialmente a produção em estúdio se restringia ao registro de uma performance, hoje existem vários procedimentos técnicos e musicais que podem ser utilizados para se chegar ao resultado sonoro desejado, técnicas diversas a serem empregadas em função dos objetivos musicais e das concepções estéticas que se tem em mente. Desse modo, não podemos falar que existe um processo, ou uma técnica de produção adotada universalmente pela indústria fonográfica, mas, sim, que existem procedimentos técnicos e rotinas de produção diversos, cuja utilização deve ser avaliada a partir dos objetivos musicais que se tem em mente. (p.06)

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